quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sobre Pontes

A ponte é até onde vai o meu pensamento

A ponte não é para ir nem para voltar

A ponte é somente para atravessar
Caminhar sobre as águas desse momento.

(Lenine)




Caminhos sinuosos, transposição de águas, vales e outros obstáculos naturais, são facilmente realizados por meio de pontes.


E as pontes sempre estiveram presentes na história do homem, em variadas formas. Nos primeiros tempos, os homens as utilizavam para ultrapassar obstáculos em busca de abrigo e alimentos. Atualmente, elas são frutos de obras de engenharia, seguríssimas, com sensores e outros aparatos tecnológicos, tudo para nos proporcionar conforto e facilidades.


Dentre seus diversos formatos e estilos, as pontes sempre serviram mais que tudo, como um elo entre as pessoas. E claro, além da ponte em sentido literal que acabei de descrever acima, existe a ponte como símbolo.

Durante nossas vidas, acabamos sendo ponte e nos utilizando de pontes também. O nosso trabalho é ponte para o nosso sucesso. As nossas boas ações são pontes para nosso crescimento e amadurecimento pessoal. As nossas atitudes também são pontes para momentos felizes e de infortúnios.


De toda sorte, mais do que a união física, não há dúvidas, que somos ligados à certas pessoas por laços espirituais de carinho e amor, mesmo em face da distância. Infelizes, todavia, são aqueles que se fecham e ao invés de criarem uma ponte de encontro, criam muros de separação.


Não obstante isso, devemos admitir que quando criamos uma ponte de encontro, atravessamos um caminho. Essa criação muitas vezes advém do acaso ou de conquistas. Mas a verdade, é que ao atravessar para o outro lado, devemos decidir sobre o que foi deixado para trás. É nesse ponto que algumas pessoas se perdem, pois, elas atravessam a ponte, ultrapassam uma etapa, mas não conseguem tirá-la dos pensamentos. E, em verdade, estando do outro lado, para vivê-lo plenamente e em paz, é preciso, queimar a ponte que ficou para trás. É preciso não só abandonar a ponte, mas extirpá-la da vida, aniquilá-la.


Muito embora seja uma tarefa dangerosíssima e muito dolorida, é preciso aceitar e admitir que certas etapas de nossas vidas chegam ao fim. Devemos aceitar a constante presença da partida, da nossa condição humana efêmera.


O motivo, é que se fraquejarmos, essa mesma ponte que serviu de elo e de encontro, servirá como fuga. Se não quisermos voltar para uma situação, que outrora foi desconfortável, nos causou sofrimento, foi motivo de transtorno e dor, devemos, com muita coragem, queimar todas as pontes de união.

Muito bravo foi Julio Cesar quando aportou na costa britânica com seu exercito invasor. Na ocasião ele ordenou que queimassem todos os seus navios, estes tinham prestado um grande trabalho transportando o seu exercito através do estreito e que, no caso de derrota, seriam indispensáveis para a fuga.

Em verdade, só é forte e sabe expressar com vigor essa força, aquele que ao iniciar um empreendimento, aniquila qualquer possibilidade de fuga, isto para não cair na tentação de voltar atrás, em caso de derrota, ou em razão do mínimo obstáculo encontrado.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Para Sempre (Drummond)





Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca

mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.










“Sabemos, com efeito, que ao se desfazer a tenda que habitamos neste mundo, recebemos uma casa preparada por Deus e não por mãos humanas, uma habitação eterna no céu. (...)

Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que nos deu por penhor o seu Espírito. Por isso, estamos sempre cheios de confiança. Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor.”. (Coríntios 5:1, 5-6)







Esta é uma singela homenagem à minha avozinha, que faleceu no dia 24 de novembro de 2009 e hoje mora ao lado do Nosso Grande Pai.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sobre Perdas




Verifiquei no dicionário on line o significado da palavra perda e lá estava: “ato de não vencer”. Fiquei imaginando como encaramos as perdas em nossas vidas. Pessoas que passam e se perdem, sonhos que ficam para trás, coisas que temos que renunciar para conseguir outras, enfim, como é a perda para o ser humano e o que ela significa.



O primeiro exemplo de perda que me vem em mente é a da pessoa amada, seja por morte, rompimento de relações, falta de contato, distância... Creio que todos já sentiram esse gosto amargo nos lábios. Como em um filme, todos os momentos especiais começam a vir à tona e a saudade dói. Mas, o pior é pensar nos planos que nunca vão se concretizar. Imaginar que haverão momentos bons e ruins que não poderão ser compartilhados. É o preço duro da perda. Quando penso nesta espécie de perda, lembro-me de um trecho da música Piano Bar: “Como um barco perde o rumo, como a árvore e o outono perde a cor...”. Assim fica o coração com a perda de alguém amado. Desnorteado, sem cor, cinzento, amargurado... Se alguém teve culpa ou não, se faltou dizer alguma coisa ou não... Nada disso tem mais importância. A hora é de sacudir a poeira, aceitar a decisão ou renúncia feita, e seguir.



Mas com efeito, penso que a maior perda que alguém pode ter é no tocante à sua liberdade. Isto por ter que perder o sorriso e quiçá a paz, por conta da opressão de alguém. Para mim, a paz de espírito é tudo de melhor que podemos ter na vida. Nada substitui o fato de se estar bem consigo próprio, dormir e descansar, ciente que não está sendo inescrupuloso ou mesquinho com alguém. Ter paz de espírito é ter uma vida digna, e quem perde a paz e a liberdade não consegue tê-la.



Não é muito diferente a perda que algumas pessoas sofrem ao longo de uma vida toda, buscando incessantemente o dinheiro e não aproveitando as coisas simples da vida, que são preciosíssimas. Tornar-se escravo do tempo implica em grandes renúncias. Renúncias valiosas como: apreciar uma flor de manhãzinha, as crianças brincando no parque, a magia dos desenhos que as nuvens formam no céu, o aconchego de molhar os pés em um lago... São tantos exemplos de bem-aventurança que a vida nos proporciona e o dinheiro nunca poderá comprar, que eu poderia ficar citando e citando até essas linhas acabarem. É como Jesus disse com muita sabedoria: “Olhai os Lírios do Campo que não trabalham e nem fiam e no entanto, nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles.” (Mateus 6: 28 e 29)




Mas, enfim, o fato é que a vida é repleta de decisões, e estas sempre implicarão em alguma perda. Por isso, algumas pessoas temem tanto decidir. Não conseguem suportar a idéia de que perderão algo em contrapartida. Então, permanecem numa zona nebulosa, consumindo-se em angustia. O bom de tudo isso, é que sempre aprende-se algo. Perde-se, mas, ganha-se maturidade. Penso que nessa vida não caminhamos sozinhos, pois, Deus sempre está conosco e Ele sempre passa na frente das nossas decisões, claro se assim permitirmos. O ideal é acreditar nessa Vontade Suprema e deixar-se conduzir, para onde há Luz e Vida.




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Eu

(Florbela Espanca)


Até agora eu não me conhecia,

Julgava que era eu e eu não era

Aquela que em meus versos descrevera

Tão clara como a fonte e como o dia.



Mas que eu não era eu não o sabia

E, mesmo que o soubesse, o não dissera...

Olhos fitos em rútila quimera

Andava atrás de mim... E não me via!




Andava a procurar-me - pobre louca! -

E achei o meu olhar no teu olhar,

E a minha boca sobre a tua boca




E esta ânsia de viver, que nada acalma,

É a chama da tua alma a esbrasear

As apagadas cinzas da minha alma!





sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Dama da Meia Noite

Outro dia em conversa com um amigo, relembrei algumas lendas que ouvi minha vida toda e principalmente durante a infância. Quem mora no interior como eu, sabe que as lendas e os folclores têm um papel especial no nosso imaginário, um pouco mais pueril e intenso que nos outros lugares.


Dentre tantas lendas interessantes, existe uma que sempre me chamou atenção, é a chamada “Dama da Meia Noite”. Em pesquisas, descobri que esse mito é universal e é contado geralmente nas Américas e em toda Europa.


Reza a lenda, que a protagonista é uma mulher belíssima e muito atraente. Dizem que geralmente ela está vestida de vermelho. Outros dizem que de branco e alguns com a intenção de dar um ar mais apimentado na história juram que ela aparece vestida com uma lingerie com transparências.


Conta-se que a “Dama da Meia Noite” é uma alma penada que desconhece que já morreu. Há rumores de que é o fantasma de uma jovem assassinada que desde então vaga sem rumo. Ela é denominada “Dama da Meia Noite”, não por aparecer à meia-noite, e sim, por desaparecer nessa hora (lembra a Cinderela, rs...).


De fato, ela tem segue um ritual muito peculiar. Ela aborda homens solitários em mesas de bares noturnos. Dona de uma beleza incomum e muito sedutora, ela facilmente envolve sua presa em seus joguinhos de conquista. Depois de uma boa conversa, ela os pede que a levem em casa. Entretidos no percurso e encantados com tanto charme e beleza, não percebem para onde estão sendo levados. Aí então, “de repente, não mais que de repente”, ela pede para parar ao lado de um muro alto e revela ao acompanhante seu segredo mórbido: "É aqui que eu moro...". Só assim percebem que estão ao lado de um cemitério, no entanto, antes mesmo esboçarem qualquer reação, ela desaparece como em um passe de mágica. Nessa hora, cabalisticamente, o sino da igreja anuncia que é meia noite.



Em outras regiões a história é um pouco diferente. A “Dama da Meia Noite” aparece em estradas desertas, pedindo carona. Como no outro caso, ela pede ao motorista que a leve em casa. E mais uma vez, a pessoa só percebe que está diante do cemitério, quando ela com sua voz suave e encantadora diz: "É aqui que eu moro, não quer entrar comigo?". Estarrecida de medo, a única coisa que a pessoa vê, é que ela acabou de sumir diante dos seus olhos, à meia-noite em ponto.


No México há uma versão local, La Llorona, que é uma mulher que afogou seus dois filhos e depois se suicidou. Então perambula chorando, ora pelas beiras de rios em busca deles, ora pelas estradas pedindo carona com um bebê no colo. Quando entra no carro, dá para ver que é uma assombração com o seu rosto de caveira. Para muitos trata-se de uma noiva, que na noite do seu casamento, quando se dirigia à igreja, foi atropelada. Era uma noite de sexta-feira. Então nas noites de sexta, ela volta à estrada vestida de noiva e pedindo carona. Já dentro da cabine do carro, ela se dissolve, vezes como cera derretida, vezes como fumaça.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Amor Contagiante

Outro dia, revi a mini-série Hilda Furacão que passou na Rede Globo há alguns anos atrás. Teve uma cena, em especial, que ficou gravada na memória, tamanho foi o meu encantamento ao (re) vê-la.


Hilda Furacão em conversa com o jornalista Roberto Drummond soube que Santana dos Ferros, cidade natal do Santo Malthus e onde ele se encontrava naquele momento, estava cercada, em virtude da suspeita de um caso de peste. Hilda, amedrontada com a idéia de que seu amor estava correndo risco, resolveu fretar um monomotor e após carregá-lo com bálsamo, pôs-se a sobrevoar e pulverizar Santana dos Ferros, tentando avistar o Santo.

A pacata cidade, que antes da aparição da protagonista, sentia o peso mórbido do fantasma da peste, renovou-se. Santana dos Ferros, outrora adormecida e presa em um macabro pesadelo, havia acabado de despertar e mostrava-se pronta para o recomeço. O povo então saiu às ruas, e fantasiados, começaram a brincar carnaval, impulsionados pela idéia de que se por ventura fossem tocados pela peste, morreriam, mas, em clima festivo, transbordando de felicidade.


Era Hilda Furacão trazendo a alegria pelo céu. Era Hilda Furacão espalhando mais que um remédio: um aroma de esperança. A verdade é que Hilda havia se apaixonado por Santana dos Ferros. Isto porque o seu amor ali estava. Ela estava movida pela certeza de que algum lugar daquela cidade abrigava o seu amor. Por isso, ela então se apaixonou por toda a cidade.


Às vezes, quando ouço a música "Luz dos Olhos" de Nando Reis, relembro essa cena de Hilda Furacão. O sentimento intríseco nessas duas artes tem tanta verossimilhança que se completam. Como se Nando Reis tivesse feito "Luz dos Olhos" para essa cena. Principalmente no seu finalzinho: "cartazes te procurando, aeronaves seguem pousando, sem você desembarcar... siga onde vão meus pés, porque eu te sigo também.".


O amor é assim... é a poesia dos sentidos. O olhar de quem tem um amor feliz é contagiante, tem novas cores. Porque todo o mundo é enxergado também de forma diferente. É a certeza de que neste mundo está a pessoa amada.






Outro exemplo de amor contangiante eu vislumbrei quando li "O Pequeno Príncipe". Lembro-me da parte em que ele deixou a rosa, o seu amor, no seu pequeno planeta, protegida por uma redoma e veio para a Terra. Ao olhar para o céu, essa imensidão infinita, o seu olhar ficava doce. Mesmo sem conseguir enxergar o seu pequeno planeta, morada da sua rosa, ele dispensava um longo olhar para todo o céu. Ele sabia que ela estava em alguma estrela, então, todas as estrelas ficavam floridas.


Para mim, o amor contagiante é a face mais bonita do amor. É o amor que supera a distância e a saudade, transcende a nossa compreensão por ser divino. É encantado, marcado por uma devoção traduzida pela fidelidade e paciência. É sentimento supremo. Vinicius de Moraes é que foi feliz quando escreveu que o amor “é um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias...”



terça-feira, 14 de julho de 2009

Carta

Sempre fui um homem dono de mim mesmo. Sempre tive muito bem definido tudo em minha vida, meus objetivos e meus planos. Até o caminho para o trabalho é o mesmo de todos os dias. Para que fazer diferente se tudo está bem? Rotina, ao contrário do que muitos pensam é sinal de que está tudo bem. Tanto que quando acontece algum imprevisto, eu logo relembro meus rituais cotidianos e sinto saudades.

E de repente tudo começou a escapar do meu controle de forma inexorável. Não sei mais dominar minhas emoções. E ela, a razão da minha inquietação sempre aparece de forma inusitada, causando turbulências na minha vida, outrora, tão pacata. Ela não diz nada demais, somente me olha, um olhar demorado que parece me analisar por dentro, desvendar os labirintos mais íntimos do meu ser.


E quem diria que uma menininha dessas me desarmaria assim? Deve ter a metade da minha idade. Talvez nunca tenha viajado, sequer saído desta cidadezinha. Mas ela é assim, um olhar faceiro e sorriso com covinhas do rosto. Sempre metida numa calça jeans e blusas que mostram os ombros, de sorte a causar oscilações no meu pensamento. Ora eu desejo colocá-la no colo e protegê-la de todo mal desse mundo torpe... ora ela me desperta desejos loucos... de possuir aquele corpo sagrado e fazê-la só minha.


Mas uma verdade, eu enfim, admito. Nada me causa mais receio, mais estranheza que este momento da minha vida. Já tive dias parecidos, como no meu primeiro dia de trabalho no serviço público e como no dia do meu falido casamento. Mas este está sendo único! E sinto um misto de aflição com paz. Uma paz que vem ao meu encontro por poucos instantes. Quando eu admiro o sorriso dela, e claro, aquele olhar enigmático. Olhar de quem deseja, mas não quer, de quem provoca, mas se esquiva. É ela... A menina dos meus olhos.

E agora este impasse diante de mim! Um impasse que não era para ser, mas, tornou-se nem sei por quê. Nada me assombra mais e nada me seduz mais, do que esta cartinha que ela deixou em minhas mãos ontem à tarde, para ser entregue à minha filha, que eu vou buscar no fim de semana em Belo Horizonte. Dormi já era madrugada, com a carta no criado ao lado. Acordei, coloquei-a no bolso. Não, eu não teria coragem de devassá-la assim. Violar uma correspondência alheia. Pensei no olhar assustado de minha filha, que certamente descobriria meu crime. Pensei, ainda que, de uma vez por todas, aquela a quem eu endereçava meu pensamento, meus sonhos, iria faltamente descobrir minha paixão secreta.



Joguei a carta em uma gaveta e pensei comigo, ‘não vou me atormentar por essa bobagem’. Imagine só o conteúdo dessa cartinha. Devaneios de duas jovens de vinte anos. Depois do trabalho resolvo meus problemas no barzinho. Quem sabe não me aparece uma mulher da minha idade, experiente e predisposta a uma aventura casual?


Mas e a cartinha... Cartinha perfumada. Cheiro de flor. Flor colhida de manhãzinha. Muito diferente da frieza dos e-mails e das ilusões dos telefonemas, que nos dão a sensação de proximidade, mas no fim das contas só nos separam das pessoas.



Já a cartinha perfumada tem a letra dela... Tem os pensamentos dela todos condensados em um pequeno pedaço de papel. Certamente ela deve ter muitos pretendentes. É claro. Quem passará despercebido a tamanho encantamento? Um anjo com olhar provocante. Uma flor que me derrotou. Agora vejo-me escravo do seu perfume, prisioneiro nos seus espinhos, envolto para sempre em suas pétalas aveludadas. Minha flor prímula*. Sinto-me cansado, de tanta vontade de te ver. Só posso, agora que estou definitivamente enfeitiçado, declarar-me seu eterno devoto.


Perdido em meus pensamentos me esqueci que a carta não me pertence. Sem que eu pudesse perceber e me freiar, agora ela está aqui, aberta, devassada, diante de mim. Acabo de vencer o remorso e o pudor que as convenções me incutiram ao longo da minha vida. Meus olhos agora acabam de ganhar vida e luz. A primavera chegou em mim.



Amiga,


Estou apaixonada por um gato grisalho!!! ♥♥♥



Yasmin ♥●•٠·˙












*Prímula é a flor que símboliza a juventude.

domingo, 28 de junho de 2009

Sobre Arte!

_ Segundo o dicionário Houaiss, arte é a "produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana".

_ Acho bonito um poema, mas, não sei pra que serve!


_ Falta arte ao mundo! Se todas as pessoas soubessem a importância, tivessem sensibilidade e praticassem, não haveria tanta violência, tantas mazelas, tanto egoísmo. Todos procurariam valorizar as coisas simples da vida e não se deixariam seduzir pela vaidade. Quem sabe o valor da arte, respeita o próximo e vive em prol de um mundo melhor.

_ As minhas aulas mais chatas são sobre arte. Porque não estudamos apenas as matérias úteis, como física, matemática e geografia? Ficar falando de coisas que já aconteceram no passado... Arte para mim é só isso! Humpf!


_ Arte tem a ver com história. Isto porque a história se releva através da Arte e a Arte se revela através da história.


_ Arte é só um ‘hobbie’. Aliás, nem tudo que é bom para você é bom para todos. Se a arte serve pra você, então seja feliz assim. Mas para mim arte não serve para nada! Acredito no poder do dinheiro.

_ Música para mim não é simplesmente para alcançar fama. Música é um conjunto harmônico composto por letra, melodia e sentimentos. O sucesso financeiro é mera conseqüência. O músico ‘mercenário’ é aquele que identifica tendências, imita estilos ao invés de se inspirar. Com isso, às vezes até impõe comportamentos, através da repetição. Já o músico ‘artista’ é aquele que se deixa levar pelas emoções, é dedicado, tem tino, dom. A música é minha vida.


­_ Não será por intermédio de poemas que o mundo vai progredir.

_ Sou cinéfilo! O cinema é um modo divino de contar a vida.

_ Surrealismo é a libertação dos impulsos em forma de arte. A vitória sobre a censura do subconsciente!

_ Não gosto de ler!

_ Música é sentimento exteriorizado, fruto de um momento de inspiração. Queria compor uma música. Quem não gosta de arte não tem sentimentos.

_ A arte é vida. Pessoas que não gostam de arte são como “gado”. Não passam de um imenso agrupamento de pessoas, em torno de idéias que não foram inventadas por elas. Elas não se posicionam de forma contrária, porque não possuem capacidade intelectual, para tanto. Simplemente aceitam tudo! Tudo que está na moda, tudo o que os outros dizem que é bom! Não têm individualidade. Estão sugestionados pela massa. São “Outros”, conforme disse Manoel de Barros, em certo poema.


_ Não gosto de teatro! É tudo invenção e mentira. É muito caro, gasta-se muito dinheiro com peças teatrais. As pessoas aplaudem uma peça por mera hipocrisia.


_ Sou fotógrafo! Fotografia é a "arte de escrever com a luz".

_ Gosto de qualquer música! Na verdade, gosto mesmo é de baladas! Qualquer música em companhia da minha paquera fica perfeita.


_ Ora, para mim, o teatro é a arte em sua plenitude. É mágico estar em um palco, é fascinante decorar textos, criar figurinos, dar vida ao personagem! Eu nasci para o teatro! Atuar é doar-se em nome de um sonho. Atuando posso ser o que quero! Sou diferente, pois sei criar, ensaiar e me orgulho de cada trabalho que faço! É como um nascedouro de um novo filho! Um filho meu! Encontro-me na arte teatral!



(Diálogos extraídos de um grupo de debate sobre Arte que não existiu, mas que é verdadeiro).


Por Érica, a sonhadora.



A literatura foi o meu primeiro amor. Para mim, a arte vem de Deus, tem um toque divino. Tem poder de mudar vidas, já que transcende os desígnios do cotidiano e encontra forças no que há de mais bonito na alma humana. Escrevo com meu sangue, parafraseando Nietzshe. Escrevo para me encontrar. Quero que meu último suspiro seja por Deus e pela Arte. A literatura, a meu ver, é como um pequeno caco. E a arte como um vitral. Cacos juntos formam um vitral para que raios de sol por ele passem. Contas de vidro coloridas, pequenos pedaços de mim. Cacos para o vitral da minha vida. Retalhos que dão sentido à minha existência. A arte para mim é amor. Um mundo de amor em mim.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Amor e Poesia

E o inusitado acontece. Aquela noite não prometia nada demais. Apenas iria a uma festa acompanhando uma amiga que há muito tempo vinha insistindo. Avistou-o de longe e reparou a sua beleza. O primeiro atributo a ser analisado, mas, no fim das contas, o último a ser considerado. Ele, sorridente, apresentou-se e eles descobriram afinidades. E eram tantas. De família, de gostos, de sorrisos, de carinho...


Veio o convite para a dança. E com os rostos colados silenciaram. A magia condensada naquele momento dispensava palavras, era para ser adorada e cultuada em silêncio, “como quem ouve uma sinfonia... de silêncio e de luz.”.


Ele tentou beijá-la, mas sentiu-se tão maravilhado pelo sorriso dela que desconsertou-se. Adiou aquele momento que minutos depois aconteceu inevitavelmente. Ele mexeu nos cabelos dela e sentiu um leve perfume. Aquela fragrância eclodiu dentro dele um breve desvario, e ele teve que conter sua impetuosa vontade de beijá-la, por completo. Ela, também atraída, aninhou seu corpo junto ao dele... sentiu tudo tão familiar. Olhos nos olhos, mãos se entrelaçando. O corpo é instrumento e o amor é poesia.



Não queriam se separar, mas foi preciso. Em casa ela demorou a dormir tendo em suas mãos um livro de poemas de Pablo Neruda. Ele dormiu embalado pelas carícias que o amor lhe fazia nos pensamentos.





E eles eram mais antigos que o silêncio...



Quando falo sobre amor, lembro de Florentino Ariza, personagem do livro “O Amor em tempos de cólera”, que demorou 53 anos para conquistar o amor de sua vida e como disse Rubem Alves, com muito encantamento, a partir de então, viveu o ‘tempo da delicadeza’. Algumas pessoas, por outro lado, passam pela vida e não encontram o amor. Outras o encontram, mas o perdem. Existem aquelas como os personagens da pequena história que narrei, que vivem curtos momentos gloriosos de amor. Encontram o momento de amor. Amor que será colocado à prova posteriormente quando o casal passar horas e horas a fio conversando, descobrindo afinidades ou destemperanças.

A beleza que foi o primeiro atributo será mais valiosa, se junto com ela vier a cumplicidade. Em verdade, existem muitas belezas, mas, a beleza da alma nunca fenece. Diferentemente da beleza física e a do sexo, que são fugazes, a beleza do amor é a mais bonita de todas. É aquela em que o casal vê nos olhos do outro, os seus sonhos e a sua própria imagem revestida com uma ternura embalsamadora. É poesia, e por isso permanece.

Durante a dança, mais que o encontro dos corpos, houve um momento em que os sonhos se encontraram: o sonho de ser feliz, de viver uma história, de livrar-se da solidão, de estar sempre no ‘tempo da delicadeza’. Eles se amaram, e mais que isso, amaram o momento. Amaram “a água implícita, o beijo tácito e a sede infinita”, como muito bem escreveu Drummond em um de seus poemas.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Amigos





Eles se entendem pelo olhar
Inefável ternura fortalecedora
São intensos, divertidos e emotivos
Livres, mas, presos por laços espirituais
O tempo é testemunha
Ela, doce e rígida ao mesmo tempo
Ele, convincente e implacável
Um porto seguro
Amigos também são almas gêmeas
Eles se completam.





"... mas há um amigo que é mais chegado do que um irmão.” (Provérbios 18:24)










Ela é sorridente e simpática, o encanto é instantâneo
É cheia de graça e de amor
Guarda as dores (quase que só) para si
Juntas não sentem o tempo passar
Mergulham em poemas, música, arte e confissões
Tudo regado a vinho tinto
A distância não as separa
O reencontro sempre desperta as afinidades
São irmãs de coração.
“A distância não separabólica”.







"O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão. (Provérbios 17, 17)".








Ele é leal, cortês, um perfeito cavalheiro
Perseverante e dono de sentimentos nobres
Firme em suas opiniões
Eles são confidentes
Delongam horas com filosofias próprias
Respeito e confiança são marcas constantes
A diferença é o que se tem em comum
Sonham em se abraçar
Mais que amigos virtuais
Amigos de fé
Unidos por laços invisíveis de carinho.





"Azeite e incenso alegram o coração: a bondade de um amigo consola a alma.". (Provérbios 27, 9)







Esta é uma singela homenagem aos meus amigos: Saulo, Nayara e Felipe. Com carinho...











sexta-feira, 24 de abril de 2009

Protegendo a cria


1965. Era de manhã. Ela acordou cedo porque o bebê já queria leite. Pouco mais tarde os filhos maiores acordaram um a um e já começavam os afazeres diários. Perguntaram pelo pai que há dias havia ido para o combate. Ela amoleceu o olhar e balançou a cabeça com um sinal negativo. Um estrondo ensurdecedor denunciou que aquele sossego tenso e melancólico havia chegado ao fim. Ela juntou os filhinhos e sem nenhum de seus bens empreendeu fuga. Resolveu passar pelo rio, ali, talvez não fossem atingidos pelos bombardeios americanos. Devia haver neste mundo torpe um local onde pudesse abrigar sua cria, tapar-lhe os ouvidos, abraçá-los tão fortemente, a ponto de nenhum mal poder atingi-los. Protegê-los, niná-los, dizer que tudo estava bem... tudo aquilo era um sonho ruim!




A pequena história que narrei é fruto de minha imaginação. Estou há dias observando essa fotografia e fiquei imaginando o que teria acontecido à essa pobre família, antes de chegar a essa trajetória fatídica. Muito embora a história narrada seja por mim fantasiada, os personagens são reais e eles estavam dentro de uma guerra real. Ninguém posou para essa foto, todo esse desespero estampado no rosto de cada uma das vítimas foi real.

Durante dez anos, as fotografias da Guerra do Vietnã foram eventos principais nas manchetes dos jornais de todo o mundo. É que o acesso aos campos de batalha era praticamente irrestrito, e por isso, os foto-jornalistas conseguiram mostrar a guerra no seu âmago, em sua essência indolente e cruel. E foi uma guerra com muitas batalhas, não obstante o uso efetivo de armas de última geração, inclusive químicas, bombas de fragmentação e as famosas bombas de napalm, por parte dos Estados Unidos. Frise-se, que ainda assim, mesmo com todo esse acervo armamentista, os norte-americanos não obtiveram triunfo, sendo, ao final, derrotados pelos experientes vietcongs e suas táticas de guerrilha. Um espetáculo de horrores prontinho para ser registrado!

Não só na Guerra do Vietnã, que foi o palco das tormentas sofridas por essa família, bem assim, em todas as guerras, a covardia, o sofrimento imensurável, o sadismo, são figuras dominantes. E além dos soldados que são obrigados e convencidos a lutar em nome de uma ideologia infame, sofrem também as mulheres, as crianças e toda uma nação é destruída.

O meu intuito em publicar essa fotografia, que já foi inúmeras vezes publicada, em todo mundo a partir de 1965, é de ressaltar, sobretudo, o sofrimento dessa infeliz mãe de família. Coagida pelas circunstâncias a fugir de seu lar, temendo o que poderia ocorrer a seus filhos pequenos, e claro, acuada em seu próprio país, que deveria ser seu porto seguro, ela não negou o seu instinto natural de sobrevivência, e lutou como uma leoa, até mais que os próprios soldados, eu penso. Não sei como foi o final dessa história, mas o fato é que uma estória bonita, triste e bonita. E mais, nos faz repensar nossos valores e nas ideologias que os dominantes do poder podem nos incutir.

O mais lamentável de tudo é que enquanto existem mães desesperadas tentando salvar seus filhos, crianças apavoradas por não conseguirem se defender, alguns poucos honestos tentando mudar o mundo, existe alguém, do outro lado, erguendo um império próprio, particular, do tamanho da sua vaidade. E para isso, ele tem que ser insensível e egoísta. O nome dele é Senhor da Guerra. E ele ‘não gosta de crianças’.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Os versos que te fiz




Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

(Florbela Espanca)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Da Vaidade

“A vaidade é definitivamente meu pecado predileto”.
Sentenciou o diabo, interpretado com maestria por Al Pacino, no filme “O advogado do diabo”. O filme relata com muita riqueza o que uma pessoa é capaz de fazer para satisfazer a sua vaidade, o seu orgulho, e notadamente, a vontade do homem de possuir poder e os sacrifícios que faz para tê-lo.

De ver-se que a vaidade é um adjetivo oscilante, ou seja, é como uma moeda, logo, pode ser vislumbrada por dois lados. O primeiro é bom, é a vaidade saudável, a vontade de querer se sentir belo, de buscar um ideal, vencer na vida. Poder-se-ia dizer, talvez, que ela é compatível com a dignidade, que é um direito universal, já que todos possuem gostos e talentos próprios e querem satisfazê-los. Vem do amor próprio, do sonho.
Agora a outra face da moeda é um tanto perigosa. É a vaidade figurando-se como um grave pecado capital, evidenciada na busca pelo poder. No entanto, esta busca é revestida de cobiça, é inescrupulosa. É a auto-estima doente, é a necessidade viciada de buscar todas as atenções, trazer todo o poder para si.

Talvez a vaidade seja um pecado que graça sobre toda a humanidade. Tanto que já ouvi várias vezes que ‘se quiser conhecer uma pessoa dê poder a ela!’. E é por isso que é preciso ter muita cautela. Cautela para com os meios para satisfazer a vaidade e para não se ludibriar demais com os luxos que o dinheiro trás. Cautela para com a vaidade e suas diversas dimensões, a vaidade da beleza, do dinheiro, da sabedoria e do poder.

Um exemplo clássico é encontrado na Bíblia. Adão foi o primeiro homem a entregar-se à sua vaidade. Depois que Eva foi convencida pela serpente a juntar-se a seu companheiro e comer o fruto proibido, o pobre Adão não resistiu aos apelos da mulher. Não obstante possuísse o poder de desfrutar do Jardim do Édem, de sorte a comer todos os frutos de qualquer uma das árvores, a exceção daquele proibido pelo seu Criador, Adão foi desobediente, e invejoso até, não negou a sua condição humana e deu-se por insatisfeito, infrigindo a ordem divina. Desejou mais. Imaginou que se comesse o fruto proibido tornar-se-ia deus, e logo, conhecedor de todo bem e todo mal. O preço pela sua vaidade foi a expulsão do paraíso.

Muito embora tenha sido o primeiro homem a render-se à sua vaidade, Adão não foi o último. É que a vaidade existe também em vários níveis de moderação. Quem assistiu ao filme “O Senhor dos Anéis” se lembra da inquietação que pairava sobre qualquer um que se aproximava do anel. É que aquele que o possuísse seria senhor uno e absoluto de toda a Terra Média. Diante daquele pequeno objeto, olhos saltitantes de desejo brilhavam, e o pior, a mera possibilidade de possuir o anel, causava transformações passíveis de delírios.

E mesmo dentro dos corações mais nobres, às vezes a vaidade consegue transparecer-se, eu diria que como uma ‘pitadinha de pimenta’, uma ‘alfinetada’. Não raro conhecemos pessoas extrovertidas, inteligentes, detentoras de uma retórica impecável. Todos os olhares se voltam para ela! Entretanto, pode ser que no fundo de si, reine uma profunda insegurança fruto de algum trauma trazido da infância ou adolescência. Talvez sentir-se admirado seja uma arma para amenizar uma eventual chaga do coração.

Isso tudo me lembra a afirmação muito acertada de Jonathan Swift: "Repetem-nos na escola: 'A vaidade é o prato dos parvos'. Mas os sábios também condescendem em comer dele muitas vezes."

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Da Solidão

“Para me amar é preciso amar primeiro a minha solidão”. Rubem Alves escreveu esta frase no conto “Barbazul”, um dos textos do livro “Cantos do Pássaro Encantado”. Quando li me senti emocionada, como que minha alma fosse acariciada.

Pois bem. Nesse texto, o grandioso Rubem Alves narra a história de Barbazul, um homem de muitos amores e que só permitiu que uma mulher adentrasse em sua vida com plenitude, quando descobriu que ela o respeitaria em seus momentos de solidão. Respeitaria os momentos em que ele ficasse a sós com seus discos e filmes. Quando ele quisesse parar e refletir sobre a vida ou apenas admirar o nascer do sol ou a calmaria de uma tarde no campo.

Mas o fato é que esse texto veio corroborar o que eu há muito já acreditava e sonhava para minha vida. O “Barbazul” me fez refletir sobre os relacionamentos que tenho presenciado. Às vezes, as pessoas não são movidas pelos ciúmes do parceiro, em virtude do medo de sabê-lo nos braços de outrem. Mas é o medo da felicidade do parceiro que as invade por completo. Medo de sabê-lo feliz lendo um livro, de saber que existem amigos que o divertem ou que outras pessoas possam sentir o brilho do seu sorriso, do mesmo modo que ela o percebeu. Medo da atenção compartilhada, de imaginar mesmo de longe, que ela pode estar feliz através de outros meios que não seja a sua companhia.

Ou ainda, por outro lado, o desrespeito em relação aos momentos de tédio que todos passam. Aqueles momentos em que o parceiro fica taciturno, mergulhado em perguntas sem respostas, avesso a festas e comemorações.

Talvez seja a partir desse ponto que o relacionamento vai mitigando. Pelo desrespeito à individualidade do outro, e, notadamente pelo desrespeito à sua solidão. Solidão esta que deve ser enxergada como algo positivo, e não como um fardo, já que é temida pela maioria das pessoas.
Ora, alguns preferem se curvar a um relacionamento frustrante e tormentoso a imaginar-se sozinho. E o pior de tudo é não saber que a pior sensação não é estar desacompanhado, mas sim, estar só, pesadoradamente só, em meio a multidão. Estar só mesmo acompanhado e temendo estar desacompanhado por não se suportar. É a sensação de se sentir “uma prateleira repleta de frascos vazios”, como acertadamente escreveu Fernando Pessoa.

Mas, com efeito, devemos admitir que atravessamos a vida toda sozinhos. Nascemos e morremos sozinhos. Nunca teremos certeza se alguém nos acompanhará pela vida toda. Então, o ideal é aceitar a solidão como algo inerente à nós mesmos, e a partir desse raciocínio, buscar realizar nossos sonhos e resolver as adversidades com garra, sem depender tanto dos outros, na medida do possível, é claro.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A beleza da dor




Em 2001, Erick Refner ainda um estagiário no Jornal Berlingske Tidente da Dinamarca, resolveu cobrir a situação dos refugiados do Afeganistão, que à época era pouco comentada.

Conforme contido em seu próprio depoimento, o jornalista esteve em um campo de refugiados perto da cidade paquistanesa de Peshawar, próximo à fronteira com o Afeganistão, onde permaneceu por aproximadamente duas semanas. Ali havia cerca de 90 mil refugiados, tanto por conta da situação política, quanto pela seca no norte afegão.

Certo dia, soube que havia morrido um menino de um ano de idade no campo. A família, então, foi à barraca da “ONG Médicos Sem Fronteiras” e solicitou um abrigo branco e uma lápide.

De acordo com a tradição, são os homens que preparam o corpo do infante para o sepultamento. Neste caso, era o pai do bebê, o irmão e uma irmã. São estes os braços que dá para ver na imagem.

Naquela ocasião, Erick após dar os pêsames à família, perguntou se poderia tirar fotografias. E assim agiu o fotógrafo. Não obstante o fato de se encontrar em uma situação difícil, já que a família estava muito emocionada e ainda podia-se ouvir mulheres chorando em outras tendas, Erick Refner obteve êxito em seu propósito, sem ser hostil aos sentimentos daquela infeliz família.

Posteriormente ao término do preparo do corpo, todos saíram da tenda e os homens o carregaram por cerca de 2 km para um cemitério fora do campo.

A foto foi a vencedora do World Press Photo de 2001. Os juízes do World Press Photo descreveram a imagem como “simbólica e icônica”. E de fato é uma imagem muito marcante. Simples, mas, dotada de muita força.

De acordo com os dizeres do próprio Erick Refner: “Tem o grande contraste entre o manto branco e os braços escuros. A criança parece ter um pequeno sorriso no rosto, como se finalmente tivesse conseguido ir a um lugar melhor.Também tem o fato de que são pessoas de mais idade enterrando uma criança, deveria ser o oposto. Tem muito simbolismo nesta imagem. Tudo isso a torna muito poderosa.”.

Mas a Fotografia, como arte, realmente tem esse poder. Captar o sentimento do momento. Demonstrar que uma cena pesadoradamente triste pode ser enxergada, com a captura daquele momento fatídico, como algo dolorosamente belo. É que a beleza também existe nas situações tristes. Como certa feita proferiu Pierre August Renoir: “A dor passa, mas a beleza permanece.”.