quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Amor Contagiante

Outro dia, revi a mini-série Hilda Furacão que passou na Rede Globo há alguns anos atrás. Teve uma cena, em especial, que ficou gravada na memória, tamanho foi o meu encantamento ao (re) vê-la.


Hilda Furacão em conversa com o jornalista Roberto Drummond soube que Santana dos Ferros, cidade natal do Santo Malthus e onde ele se encontrava naquele momento, estava cercada, em virtude da suspeita de um caso de peste. Hilda, amedrontada com a idéia de que seu amor estava correndo risco, resolveu fretar um monomotor e após carregá-lo com bálsamo, pôs-se a sobrevoar e pulverizar Santana dos Ferros, tentando avistar o Santo.

A pacata cidade, que antes da aparição da protagonista, sentia o peso mórbido do fantasma da peste, renovou-se. Santana dos Ferros, outrora adormecida e presa em um macabro pesadelo, havia acabado de despertar e mostrava-se pronta para o recomeço. O povo então saiu às ruas, e fantasiados, começaram a brincar carnaval, impulsionados pela idéia de que se por ventura fossem tocados pela peste, morreriam, mas, em clima festivo, transbordando de felicidade.


Era Hilda Furacão trazendo a alegria pelo céu. Era Hilda Furacão espalhando mais que um remédio: um aroma de esperança. A verdade é que Hilda havia se apaixonado por Santana dos Ferros. Isto porque o seu amor ali estava. Ela estava movida pela certeza de que algum lugar daquela cidade abrigava o seu amor. Por isso, ela então se apaixonou por toda a cidade.


Às vezes, quando ouço a música "Luz dos Olhos" de Nando Reis, relembro essa cena de Hilda Furacão. O sentimento intríseco nessas duas artes tem tanta verossimilhança que se completam. Como se Nando Reis tivesse feito "Luz dos Olhos" para essa cena. Principalmente no seu finalzinho: "cartazes te procurando, aeronaves seguem pousando, sem você desembarcar... siga onde vão meus pés, porque eu te sigo também.".


O amor é assim... é a poesia dos sentidos. O olhar de quem tem um amor feliz é contagiante, tem novas cores. Porque todo o mundo é enxergado também de forma diferente. É a certeza de que neste mundo está a pessoa amada.






Outro exemplo de amor contangiante eu vislumbrei quando li "O Pequeno Príncipe". Lembro-me da parte em que ele deixou a rosa, o seu amor, no seu pequeno planeta, protegida por uma redoma e veio para a Terra. Ao olhar para o céu, essa imensidão infinita, o seu olhar ficava doce. Mesmo sem conseguir enxergar o seu pequeno planeta, morada da sua rosa, ele dispensava um longo olhar para todo o céu. Ele sabia que ela estava em alguma estrela, então, todas as estrelas ficavam floridas.


Para mim, o amor contagiante é a face mais bonita do amor. É o amor que supera a distância e a saudade, transcende a nossa compreensão por ser divino. É encantado, marcado por uma devoção traduzida pela fidelidade e paciência. É sentimento supremo. Vinicius de Moraes é que foi feliz quando escreveu que o amor “é um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias...”