quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ser Forte

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.


(Carlos Drummond de Andrade)




O mesmo poeta que escreveu os versos acima, um dia, com muito louvor escreveu: "teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança”.


E é assim que me sinto às vezes. Quando pensei neste blog, a idéia primeva foi de escrever somente sobre Arte. Sobre as diversas facetas da Arte. Mas acabei escrevendo também sobre minhas impressões sobre a vida, fatos que compreendem: manifestações de sentimentos, comportamentos e relacionamentos. Hoje, excepcionalmente, tive vontade de falar de mim mesma. Juntamente com esta vontade, me veio a idéia imediata que seria fútil. Afinal, quem haveria de querer saber... “meros devaneios tolos”.


No entanto, por outro lado, considero o ato da escrita, também, como uma forma de libertação, surrealismo. E é por isso, "finos leitores", que venho aqui, falar um pouco de mim. Em paráfrase a Brás Cubas, pondero: Se o texto agradar, “pago-me da tarefa; se não te agradar, pago-te com um piparote, e adeus”.


Pois bem. Quando eu era criança sempre que via mulheres dinâmicas, decididas, dessas que sabem resolver tudo, autoritárias até, despertava em mim, certa admiração. Eu sonhava em crescer e ser daquela forma. Mas, em contrapartida, imaginava que não seria possível, em razão de um certo isolamento que sempre permeou a minha vida.


E hoje na fase adulta, me vejo exatamente como aquele modelo de mulher, que um eu sonhei na infância. E como tudo na vida, isso tudo trás certas benevolências, mas ao mesmo, é um grande fardo a ser carregado. Estar a par de todos os problemas dos conhecidos, dos amigos e familiares, e de certa forma, ter uma imposição para resolvê-los, é um peso muito grande.


Sinto-me triste, às vezes, por estar tão distante da vida e ser tão diferente das jovens da minha idade. Afinal, como um dia alguém disse: quem se define, se limita. E abraçar uma idéia, posicionar-se na vida, implica em grandes renuncias. Tenho comigo esse jeito duro e doce ao mesmo tempo. Um pouco fechada para as novidades, mas, fiel ao que está a minha volta.


Contudo, às vezes sinto falta de alguém para me amparar mais. Não financeiramente. Alguém que me acalme quando eu chorar e não se desespere mais que eu. Alguém que saiba pensar em situações de estresse. Queria uma proteção.


Acho que as pessoas devem ter sagacidade. E sagacidade é um misto de inteligência e ousadia. Inteligência para aferir quando está-se numa situação de risco e ousadia para saber resolvê-la.


Gosto de pessoas apaixonadas. Isto porque eu também sempre fui muito apaixonada. Outro dia, em conversa com um amigo ele me confessou que gostaria de se casar com uma mulher tarada. "Tarada comigo, com nossos filhos, com nossa casa e nossa vida. Que viesse correndo ao meu encontro quando eu chegasse do trabalho e desabotoasse a minha camisa".


Fiquei meditando sobre isso e compreendi que o verdadeiro significado da paixão é esse mesmo. Maravilhar-se com as coisas simples da vida, suspirar com a vida que levamos, ter tesão com o trabalho que temos, e, claro, apaixonar-se com quem vivemos. Caso contrário, ter sensatez para livrar-se de uma vida de tormentos. Enfim, ter sagacidade!


E com sagacidade, apaixonar-se por alguém que se faça impressionar por sua grandeza de caráter e não por sua posição social, ou por seus bens materiais. Que saiba apreciar um poema e me arranque sorrisos de surpresa ao ter atitudes puras como a de uma criança. Que queira estar para sempre no "tempo da delicadeza", expressão muito utilizada por Rubem Alves, quando fala de amor.