sábado, 26 de março de 2011

É Patos ou Paris!

Como Parises que vão aumentando,
como insetos em volta da lâmpada.
Na cidade luz pipocam os foguetórios.




Orla da lagoa grande

Praça da Fonte

Catedral de Santo Antônio
Fotos e texto extraídos do site de Lívio Soares, retratando a indizível beleza de Patos de Minas - MG.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Bruna Surfistinha

Ontem fui ao cinema e assisti "Bruna Surfistinha". O filme narra a história de Raquel Pacheco, estudade de 18 anos que sem motivo aparente fugiu de casa e enveredou-se na prostituição. O filme mostra os extremos do mundo das profissionais do sexo. Vai desde o glamour, o requinte do adultério até o submundo das drogas, dos clientes excêntricos, que na maioria das vezes causam repulsa em muitas mulheres.

Quando entrei no cinema, imaginei que seria mais uma dessas histórias de gata borralheira. Dessas que levam uma vida sofrida em casa, são molestas pelos pais, ou por extrema necessidade financeira precisam vender o próprio corpo. Enquanto assistia, reportou-me à memória a pálida "Dama das Camélias", livro de Alexandre Dumas, que narra a história da elegante cortesã francesa que vivia às expensas de homens ricos, no entanto, é transformada quando encontra o amor. E claro, não pude deixar de lembrar de Hilda Furacão, a garota do biquini dourado, integrante da alta sociedade belorizontia, que vai para a zona bohêmia a fim de transgedir convenções sociais formadas pelo falso moralismo da alta sociedade. Tanto a história de Hilda como de Margarida Gautier são travadas por dramas de amor impossível, atitudes heiróicas, tudo para nos sensibilizar e justificar a vida que levam.

Mas a de Bruna Surfistinha é diferente. É claro que não podia-se esperar um drama romanesco, repleto de passagens altruísticas de renúncia e paixão, pois se trata de uma história baseadas em fatos reais. Mas fiquei esperando uma justificativa consternadora ou talvez a redenção através do amor...

O fato é que não se falou muito da vida de Bruna antes da prostituição. Mas ficou claro que: ela foi adotada por uma boa família, teve boa educação, estudou em boas escolas. Se caiu na prostituição não foi por maltratos, necessidade financeira e tampouco porque tinha que sustentar filhos doentes. Depois que escolheu mudar de vida, Bruna nunca mais teve contato com os pais, nenhum pedido de desculpas, nada. Nem para saber se estavam bem, sem precisavam de dinheiro. Ela simplesmente deu adeus ao passado e disse ao final do filme que "às vezes sentia saudades da família e até da casa". Perguntada pelo personagem de Tato Gabus do porquê escolheu essa profissão, ela simplesmente disse: "Eu quero ser independente". 

Em entrevista ao SBT com a jornalista Marília Gabriela, Bruna afirmou: “Eu entrei na prostituição porque eu queria unir o útil ao agradável. Queria ganhar dinheiro e gostava de fazer sexo”.

Bem, não tenho esse blog para ser taxada como escritora, não almejo tanto. Talvez, mera pensadora ou expositora de idéias. Idéias Banais, "meros devaneios tolos", como alguém já cantou. E tampouco, quero firmar "normas de conduta" ou rotular as pessoas.

Mas ao sair do cinema, mais do que em Bruna, pensei nos pais de Bruna. Fiquei imaginando que nunca mais a família se reestruturou. Uma pessoa ingrata, de fato, é capaz de causar transtornos em muitas outras pessoas. Tudo isso, me lembrou uma frase que, coincidentemente, li semana passada, de um escritor chamado Samuel Johnson: "A gratidão é um fruto de grande cultura, não se encontra entre gente vulgar.".


Respeito posicionamentos contrários, aceito críticas, principalmente daqueles que venham a me achar conservadora demais, mas fica minha impressão sobre o filme. De todo o mais, vale a pena a assistir!


sábado, 5 de março de 2011

Amores Tristes da Literatura

... Pois todo grande amor só é bem grande se for triste.

(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)






Certa feita, durante a leitura de um conto de Rubem Alves, que fugiu-me da memória o nome agora, fiquei extasiada com sua exposição sobre histórias de amor na literatura. Segundo ele, as histórias mais sublimes são tristes. Isto porque só as histórias tristes de amor, podem ser objetos de literatura. As histórias felizes, a seu turno, não precisam ser escritas, ao contrário, elas devem ser vividas, na plenitude de dois seres, dois corpos, não sendo preciso exteriorizar uma história exitosa de amor.

E a mim, restou-me, concordar com o grandioso contista. E na minha memória de relapsa leitora, insurgiu histórias de amores tristes da literatura que já li. A primeira delas, e a mais clássica, é Romeu e Julieta. Não podia ter outro final o drama shakesperiano, senão com a morte dos apaixonados. Num drama de amor de causar aneurismas, os protagonistas não encontraram outra alternativa, senão a de entregarem-se à morte, já que não poderiam concretizar seu amor e tampouco um continuar vivendo sem o outro.

Melhor sorte não tiveram Simão Botelho e Tereza de Albuquerque do livro “Amor de Perdição”, escrito pelo romancista português Camilo Castelo Branco. O motivo foi o mesmo que proibia Romeu e Julieta de ficarem juntos: rixa de família. Para tentaram impedir o romance, a família de Tereza a enterra num convento. Simão, na tentativa de resgatá-la, acaba por balear um primo de Tereza e é condenado à forca. Posteriormente, por influência do pai de Tereza sua pena é modificada para dez anos de degredo na Índia. Ao embarcar, vê sua amada morrer de tuberculose. Na verdade, o mal que matou Tereza foi a certeza que não mais veria seu amado. Tereza morreu de amor. Simão, desolado, e sem razão para continuar vivendo, morre nove dias depois e seu corpo é lançado no mar.

Não foi menos triste a história de amor narrada por Eça de Queiroz no livro “Os Maias”. Os irmãos Carlos Eduardo e Maria Eduarda foram separados em tenra idade por conta de um desatino da mãe, e quando adultos, encontram-se em Lisboa, e sem que tivessem um mínimo de conhecimento da verdadeira história de suas vidas, se apaixonam à primeira vista, tendo vivido, na sequência, um tórrido e incestuoso romance. Por conta de um amontoado de acontecimentos descobrem a consangüinidade, foi então que resvalam em um profundo tormento. A separação foi inevitável. A vida para eles nunca mais teve sentido. E tampouco as fantasias e sonhos da infância se concretizaram. Tudo que eles tinham ficou perdido no passado, juntamente com aquele fatídico romance.

O destino também não foi favorável com a belíssima Hilda Furação e o Santo Malthus, romance brasileiro narrado por Roberto Drummond. Ela, uma garota da alta sociedade belorizontina, que no altar desiste de casar e vai se instalar na zona boêmia. Ele, desde criança criado à luz da doutrina católica e tinha como sonho ser santo. Mal sabiam os protagonistas, que muito embora as diferenças que os separavam, a vida lhes reservava uma surpresa. Eles se apaixonariam durante um duelo em que o “Santo” pretendia exorcizar Hilda. Por aí já se percebe o quanto eles lutaram para reprimir esse amor e o quanto ele era proibido. Inútil. O que separou definitivamente Hilda de seu grande amor foi um desencontro. Cinco minutos. Eles marcaram de fugir juntos e o "Santo", em face de uma fatalidade, desgraçadamente se atrasa cinco minutos. Por essa razão, mais um grande amor ficou perdido no tempo e tornou-se fruto de literatura.



Com efeito, um fato é comum a todos os casos que acima elenquei: a beleza que existe em situações tristes. Em outro texto citei uma frase de Renoir, mas, creio que vale a pena repeti-la: “a dor passa, mas a beleza permanece”. A beleza é intrínseca a situações tristes. E às vezes ela é tão intensa, tão pungente, tão impressionante, que fica indescritivelmente bela. E claro, as histórias tristes causam uma estranha apreensão ao leitor. Sempre esperamos que no último instante, a história mude, e nossos heróis tenham sucesso. Fica-se a expectativa de que, se em determinado ponto os personagens tivessem agido diferente, a história poderia ter vingado. Mas se assim acontecesse, possivelmente, não seria objeto de literatura. Seria de algum folhetim, filme ou teatro, que causaria um êxtase momentâneo, mas rapidamente cairia no esquecimento. O que é diferente dos romances tristes, porque estes permanecem vivos na memória. Afinal, a beleza permanece.