quarta-feira, 25 de março de 2009

Da Vaidade

“A vaidade é definitivamente meu pecado predileto”.
Sentenciou o diabo, interpretado com maestria por Al Pacino, no filme “O advogado do diabo”. O filme relata com muita riqueza o que uma pessoa é capaz de fazer para satisfazer a sua vaidade, o seu orgulho, e notadamente, a vontade do homem de possuir poder e os sacrifícios que faz para tê-lo.

De ver-se que a vaidade é um adjetivo oscilante, ou seja, é como uma moeda, logo, pode ser vislumbrada por dois lados. O primeiro é bom, é a vaidade saudável, a vontade de querer se sentir belo, de buscar um ideal, vencer na vida. Poder-se-ia dizer, talvez, que ela é compatível com a dignidade, que é um direito universal, já que todos possuem gostos e talentos próprios e querem satisfazê-los. Vem do amor próprio, do sonho.
Agora a outra face da moeda é um tanto perigosa. É a vaidade figurando-se como um grave pecado capital, evidenciada na busca pelo poder. No entanto, esta busca é revestida de cobiça, é inescrupulosa. É a auto-estima doente, é a necessidade viciada de buscar todas as atenções, trazer todo o poder para si.

Talvez a vaidade seja um pecado que graça sobre toda a humanidade. Tanto que já ouvi várias vezes que ‘se quiser conhecer uma pessoa dê poder a ela!’. E é por isso que é preciso ter muita cautela. Cautela para com os meios para satisfazer a vaidade e para não se ludibriar demais com os luxos que o dinheiro trás. Cautela para com a vaidade e suas diversas dimensões, a vaidade da beleza, do dinheiro, da sabedoria e do poder.

Um exemplo clássico é encontrado na Bíblia. Adão foi o primeiro homem a entregar-se à sua vaidade. Depois que Eva foi convencida pela serpente a juntar-se a seu companheiro e comer o fruto proibido, o pobre Adão não resistiu aos apelos da mulher. Não obstante possuísse o poder de desfrutar do Jardim do Édem, de sorte a comer todos os frutos de qualquer uma das árvores, a exceção daquele proibido pelo seu Criador, Adão foi desobediente, e invejoso até, não negou a sua condição humana e deu-se por insatisfeito, infrigindo a ordem divina. Desejou mais. Imaginou que se comesse o fruto proibido tornar-se-ia deus, e logo, conhecedor de todo bem e todo mal. O preço pela sua vaidade foi a expulsão do paraíso.

Muito embora tenha sido o primeiro homem a render-se à sua vaidade, Adão não foi o último. É que a vaidade existe também em vários níveis de moderação. Quem assistiu ao filme “O Senhor dos Anéis” se lembra da inquietação que pairava sobre qualquer um que se aproximava do anel. É que aquele que o possuísse seria senhor uno e absoluto de toda a Terra Média. Diante daquele pequeno objeto, olhos saltitantes de desejo brilhavam, e o pior, a mera possibilidade de possuir o anel, causava transformações passíveis de delírios.

E mesmo dentro dos corações mais nobres, às vezes a vaidade consegue transparecer-se, eu diria que como uma ‘pitadinha de pimenta’, uma ‘alfinetada’. Não raro conhecemos pessoas extrovertidas, inteligentes, detentoras de uma retórica impecável. Todos os olhares se voltam para ela! Entretanto, pode ser que no fundo de si, reine uma profunda insegurança fruto de algum trauma trazido da infância ou adolescência. Talvez sentir-se admirado seja uma arma para amenizar uma eventual chaga do coração.

Isso tudo me lembra a afirmação muito acertada de Jonathan Swift: "Repetem-nos na escola: 'A vaidade é o prato dos parvos'. Mas os sábios também condescendem em comer dele muitas vezes."