segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Eu

(Florbela Espanca)


Até agora eu não me conhecia,

Julgava que era eu e eu não era

Aquela que em meus versos descrevera

Tão clara como a fonte e como o dia.



Mas que eu não era eu não o sabia

E, mesmo que o soubesse, o não dissera...

Olhos fitos em rútila quimera

Andava atrás de mim... E não me via!




Andava a procurar-me - pobre louca! -

E achei o meu olhar no teu olhar,

E a minha boca sobre a tua boca




E esta ânsia de viver, que nada acalma,

É a chama da tua alma a esbrasear

As apagadas cinzas da minha alma!