segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Escrita e Libertação

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretensiosa.
Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..."

(Clarice Lispector)





Escrever para mim é mais que uma mera atividade. Escrever é libertação. Aqui, encontro aconchego, paz e forças que transcendem os limites do corpo, para alcançar a alma bem intimamente. É por isso que sempre recorro a estas “mal traçadas linhas” e busco o que não consigo encontrar no mundo externo.

Às vezes, a correria do trabalho, juntamente com a constante pressão do cotidiano, se alia aos nossos conflitos pessoais e nos dão a falsa impressão de que a verdadeira paz de espírito se dará quando ganharmos o mundo, nos tornarmos senhores de bens, valores, sucesso e fama. E, desta feita, passamos a peregrinar pela vida com esse único e absoluto propósito, de forma obstinada, suculenta e insensata até.

Mas a vida, que por diversas vezes, se revela traiçoeira, mostra de forma combativa que o seu propósito é muito mais denso, profundo e enigmático. A verdade é que não somos senhores de nada, nem mesmo de nossa própria existência. Estamos nesta vida de passagem e a nossa fragilidade humana pode ser desfeita a qualquer momento.

É claro que podemos realizar sonhos e encontrar o amor. Mas, como já escreveu Fernando Sabino com muita sabedoria: “Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua liberrérima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade.”.

Sabemos que a paixão é facilmente confundida com domínio. É fato também que o amor quando canalizado de forma errônea é capaz de causar aneurismas. Mas de uma verdade nunca poderemos fugir. A de que ao encontramos o outro, devemos desprezar o sentimento de domínio e tentar alcançar o ideal: caminhar juntos, na mesma direção, de forma harmônica, sossegada e prazerosa. O amor nunca pode ser confundido com domínio. Este é irmão da vaidade e não se amolda ao verdadeiro significado do amor, que a meu ver, foi escrito com maestria por Vinícius de Moraes, quando assim o fez: “é um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias”.

A solidão, conforme já explanei em posts pretéritos é intrínseca ao ser humano. Querendo ou não, sempre estaremos sós, sempre seremos nossa única companhia. Completo o raciocínio citando novamente o grande Fernando Sabino ao preconizar que: “Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome.”.

Quando me encontro contemplando minha própria solidão, volto-me para a arte, para a escrita, minha maior confidente. Deus para mim é salvação, mas escrever é libertação. É forma de autoconhecimento, é uma viagem interior que sempre toma rumos inimagináveis em meu coração. Está longe de minhas pretensões ser taxada como escritora, mas, confesso, com toda franqueza, que minha vida ganha maior brilho quando exerço este dom que Deus me agraciou, e eu com muita simplicidade tento exercitá-lo, com fé e devoção.

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