sábado, 5 de março de 2011

Amores Tristes da Literatura

... Pois todo grande amor só é bem grande se for triste.

(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)






Certa feita, durante a leitura de um conto de Rubem Alves, que fugiu-me da memória o nome agora, fiquei extasiada com sua exposição sobre histórias de amor na literatura. Segundo ele, as histórias mais sublimes são tristes. Isto porque só as histórias tristes de amor, podem ser objetos de literatura. As histórias felizes, a seu turno, não precisam ser escritas, ao contrário, elas devem ser vividas, na plenitude de dois seres, dois corpos, não sendo preciso exteriorizar uma história exitosa de amor.

E a mim, restou-me, concordar com o grandioso contista. E na minha memória de relapsa leitora, insurgiu histórias de amores tristes da literatura que já li. A primeira delas, e a mais clássica, é Romeu e Julieta. Não podia ter outro final o drama shakesperiano, senão com a morte dos apaixonados. Num drama de amor de causar aneurismas, os protagonistas não encontraram outra alternativa, senão a de entregarem-se à morte, já que não poderiam concretizar seu amor e tampouco um continuar vivendo sem o outro.

Melhor sorte não tiveram Simão Botelho e Tereza de Albuquerque do livro “Amor de Perdição”, escrito pelo romancista português Camilo Castelo Branco. O motivo foi o mesmo que proibia Romeu e Julieta de ficarem juntos: rixa de família. Para tentaram impedir o romance, a família de Tereza a enterra num convento. Simão, na tentativa de resgatá-la, acaba por balear um primo de Tereza e é condenado à forca. Posteriormente, por influência do pai de Tereza sua pena é modificada para dez anos de degredo na Índia. Ao embarcar, vê sua amada morrer de tuberculose. Na verdade, o mal que matou Tereza foi a certeza que não mais veria seu amado. Tereza morreu de amor. Simão, desolado, e sem razão para continuar vivendo, morre nove dias depois e seu corpo é lançado no mar.

Não foi menos triste a história de amor narrada por Eça de Queiroz no livro “Os Maias”. Os irmãos Carlos Eduardo e Maria Eduarda foram separados em tenra idade por conta de um desatino da mãe, e quando adultos, encontram-se em Lisboa, e sem que tivessem um mínimo de conhecimento da verdadeira história de suas vidas, se apaixonam à primeira vista, tendo vivido, na sequência, um tórrido e incestuoso romance. Por conta de um amontoado de acontecimentos descobrem a consangüinidade, foi então que resvalam em um profundo tormento. A separação foi inevitável. A vida para eles nunca mais teve sentido. E tampouco as fantasias e sonhos da infância se concretizaram. Tudo que eles tinham ficou perdido no passado, juntamente com aquele fatídico romance.

O destino também não foi favorável com a belíssima Hilda Furação e o Santo Malthus, romance brasileiro narrado por Roberto Drummond. Ela, uma garota da alta sociedade belorizontina, que no altar desiste de casar e vai se instalar na zona boêmia. Ele, desde criança criado à luz da doutrina católica e tinha como sonho ser santo. Mal sabiam os protagonistas, que muito embora as diferenças que os separavam, a vida lhes reservava uma surpresa. Eles se apaixonariam durante um duelo em que o “Santo” pretendia exorcizar Hilda. Por aí já se percebe o quanto eles lutaram para reprimir esse amor e o quanto ele era proibido. Inútil. O que separou definitivamente Hilda de seu grande amor foi um desencontro. Cinco minutos. Eles marcaram de fugir juntos e o "Santo", em face de uma fatalidade, desgraçadamente se atrasa cinco minutos. Por essa razão, mais um grande amor ficou perdido no tempo e tornou-se fruto de literatura.



Com efeito, um fato é comum a todos os casos que acima elenquei: a beleza que existe em situações tristes. Em outro texto citei uma frase de Renoir, mas, creio que vale a pena repeti-la: “a dor passa, mas a beleza permanece”. A beleza é intrínseca a situações tristes. E às vezes ela é tão intensa, tão pungente, tão impressionante, que fica indescritivelmente bela. E claro, as histórias tristes causam uma estranha apreensão ao leitor. Sempre esperamos que no último instante, a história mude, e nossos heróis tenham sucesso. Fica-se a expectativa de que, se em determinado ponto os personagens tivessem agido diferente, a história poderia ter vingado. Mas se assim acontecesse, possivelmente, não seria objeto de literatura. Seria de algum folhetim, filme ou teatro, que causaria um êxtase momentâneo, mas rapidamente cairia no esquecimento. O que é diferente dos romances tristes, porque estes permanecem vivos na memória. Afinal, a beleza permanece.















3 comentários:

Cleonice Braz disse...

Érica querida!
Que bom ver vc escrevendo novamente! Adoro a forma delicada como vc expõe suas idéias!
Agora, não concordo com isso de "um amor só é belo se for triste". Lógico que se for amor, haverão dificuldades, pois nada na vida são só flores, não é?
Mas acho que o amor deve ser mais alegria que tristeza... Mais sorrisos que lágrimas e dor.
Ah... o importante é haver amor.

Saudades de ti!

Beijo,

Keo

ladykaka2003 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ladykaka2003 disse...

Belíssimo texto, Erika. Infelizmente o amor realmente remete a tristezas, desilusões, mas ainda assim, a beleza de amar permanece. Se perdermos a vontade de amar, ainda que as alegrias sejam momentaneas, aí sim, perdemos o gosto pela vida, porque como a belíssima passagem de Corintios 13, "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor."